O QUE É APRECIAÇÃO MUSICAL
Na opinião do educador musical inglês Keith Swanwick o objetivo primordial da educação musical é desenvolver uma apreciação rica e ampla, porque esta oferece prazer instantâneo, contribui para dar sentido à vida, oferece insights ao mundo dos sentimentos. Ele não considera a apreciação como uma habilidade instintiva ou herdada e por isso afirma que os educadores musicais devem levar o aluno ao aprendizado da apreciação para então proporcionar o desenvolvimento do potencial imaginativo.
Por este motivo o autor não considera a apreciação como um ouvir despreocupado, mas como uma atitude de prestar atenção, como se estivesse sentado para uma audiência. Trata-se do ato de ouvir de modo atento, tendo o compromisso estético como parte da experiência e que transforma a audição na razão central da existência da música. Esta experiência lembra o estado de “contemplação” que torna o aluno em ouvinte compromissado, absorto e transformado pela experiência estética.
MODELO ESPIRAL DE DESENVOLVIMENTO MUSICAL
O desenvolvimento cognitivo musical apresentado por Swanwick na Teoria Espiral é uma seqüência de estágios próxima à teoria cognitivista de Piaget, partindo do domínio para chegar à meta cognição. Esta seqüência atua de forma linear, contemplando as dimensões da crítica musical, e formam os quatro estágios do desenvolvimento musical, estabelecidas como: VALOR (meta cognição); FORMA (jogo imaginativo); EXPRESSÃO (imitação); MATERIAL (domínio).
O aluno responderá a um objeto musical de forma diferente a cada estágio, engajando-se a uma crítica mais formal e complexa, apesar de sempre necessitar da retomada rápida de respostas dos estágios anteriores. Contudo, cada estágio apresenta duas fases: SISTEMÁTICO e SIMBÓLICO (Valor); IDIOMÁTICO e ESPECULATIVO (Forma); VERNÁCULO e PESSOAL (Expressão); MANIPULATIVO e SENSORIAL (Material).
Estas oito fases formam uma espiral e cada fase encontra-se em lados distintos da espiral (esquerdo e direito), compreendendo características distintas (egocêntrico e socializador), mas que se complementam e permitem o equilíbrio entre assimilação e acomodação. O desenvolvimento em forma de espiral ocorre por considerar que o caminho para o aluno percorrer na aquisição de um conhecimento musical novo sempre parte da perspectiva pessoal de vivenciar a música (lado esquerdo: egocêntrico), dirigindo-se às experiências compartilhadas socialmente (lado direito: socializador).
MODELO (T)EC(L)A
Segundo Swanwick, o envolvimento direto com a música se dá primeiramente pela EXECUÇÃO, COMPOSIÇÃO e APRECIAÇÃO, que envolve respectivamente as experiências de manipulação sonora, criação e audição. Mesmo assim, as atividades de desenvolvimento das HABILIDADES TÉCNICAS e o estudo da LITERATURA estão aliados, mas em segundo plano, como apoio.
O Modelo (T)EC(L)A (Técnica, Execução, Composição, Literatura e Apreciação), que está baseado nas atividades de envolvimento com a música. Esse modelo é composto pelo que Swanwick chama de “parâmetros da educação musical”, ou seja, são parâmetros da experiência musical.
APRESENTAÇÃO GERAL DAS HABILIDADES MUSICAIS DESENVOLVIDAS EM CADA FASE DOS QUATRO ESTÁGIOS DA TEORIA ESPIRAL
ESTÁGIO MATERIAL
SENSORIAL: exploração sonora
Fascínio do som, principalmente timbre e extremos forte e piano; concepção de instrumento para qualquer objeto; uso de dedilhado como experimentação; música não organizada; pulso inconstante.
MANIPULATIVO: controle sonoro
Imitação e acomodação das explorações; identificação de instrumentos musicais convencionais; preocupação com a técnica para manuseio; pulso organizado; uso da estrutura física do instrumento para organização da música; músicas longas e vagas.
ESTÁGIO EXPRESSÃO
PESSOAL: sentimento individual
Exploração de mudança de velocidade e níveis de dinâmica; compõe frases elementares mas não consegue repeti-las; expressividade manifesta no modo como a criança percebe a música.
VENACULAR: expressões convencionais
Capacidade de criar figuras rítmicas e/ou melódicas e repeti-las; compõe peças mais curtas e dentro de convenções musicais em termos expressivos; cria frases de 2, 4 ou 8 compassos; uso de síncopes, ostinatos, seqüências.
ESTÁGIO FORMA
ESPECULATIVO: estruturação
Uso da imaginação; controle de pulso; explora e experimenta estruturas e contrastes de várias idéias.
IDIOMÁTICO: estilos identificáveis
Estruturas mais interligadas a estilos reconhecidos; apresenta controle técnico, expressivo e estrutural; composições mais longas e semelhantes a modelos existentes na mídia.
ESTÁGIO VALOR
SIMBÓLICO: valor significativo
Identificação pessoal com peças particulares; consciência do poder efetivo da música; capacidade de reflexão da experiência e discurso desta; escolha de estilo baseado no compromisso e florescimento da análise.
OBS: esta fase algumas pessoas raramente ou nunca experimentam.
SISTEMÁTICO: teorização musical
Capacidade de análise detalhada que leva a reflexão de idéias inéditas em áreas específicas (musicologia, estética, psicologia, etc.); reflexão e discurso apresentado de maneira intelectual organizada e se expandindo em novos processos e perspectivas através da reflexão, discussão e celebração com outros.
OBS: pessoas altamente desenvolvidas musicalmente.
BIBLIOGRAFIA
COSTA, Kristiane M. C. e. A improvisação na educação musical para adultos – como ocorre o pensamento criador. Dissertação (Mestrado em Música). Goiânia: UFG, 2006.
COSTA, Kristiane M. C. e. Flauta doce: um instrumento no desenvolvimento musical. Monografia (Especialização em Música Brasileira). Cuiabá: UFMT, 1997.
HENTSCHKE, Liane. Teoria Espiral de Desenvolvimento Musical. In: IX Encontro Anual da Associação Brasileira de Educação Musical, 9, out/2000. Apostila. Curitiba: ABEM, 2000.
JEANDOT, Nicole. Explorando o universo da música: pensamento e ação no magistério. São Paulo: Scipione, 1997.
KRIEGER, Elisabeth. Descobrindo a música: idéias para a sala de aula. Porto Alegre: Sulina, 2007.
SWANWICK, Keith. Ensinando Música Musicalmente. São Paulo: Moderna, 2003.